A proibição de suplementos pela ANVISA: atitude certa ou errada?
Essa semana a ANVISA proibiu a venda de 4 suplementos alimentares extremamente populares e isso causo um alvoroço na internet, nas redes sociais e também nas chamadas mídias convencionais.
Muitos profissionais da área médica, de nutrição e de atividade física saíram em defesa das empresas “prejudicadas’ pela ANVISA. Foram vários os comentários de indignação e revolta contra o que chamaram de uma atitude “arbitrária" da agência. Antes de defender ou atacar alguma decisão ou atitude de um órgão regulador, devemos conhecer os fatos. E como "contra fatos não há argumentos”, vamos observar alguns: um dos produtos proibidos apresenta 1666% da quantidade recomendada de vitamina B12 e 325% da quantidade recomendada de vitamina B6, além de ter 3 substâncias cuja segurança como alimentos não foi comprovada. Outro produto tem diferenças gritantes entre o rótulo em português e o original em inglês e, no rótulo em inglês, é listado um componente que não é seguro para uso como alimento. O terceiro produto (um dos que mais causou revolta nas redes sociais), foi proibido por possuir uma combinação de taurina e cafeína (semelhante a combinação das "bebidas energéticas” comercializadas no Brasil). A legislação permite a combinação de taurina e cafeína em determinadas concentrações por 100 mL (ou seja, na forma líquida) mas não permite essa combinação em qualquer outra apresentação. Além disso esse produto possui 8333% a quantidade recomendada de vitamina B12 e 2000% de B6 (não há erro nem falta de vírgulas nesses números). O quarto produto talvez gere mais controvérsia: foi proibido por não se enquadrar nas classificações definidas por resoluções da ANVISA (falha administrativa do importador ao solicitar o registro junto à ANVISA? Culpa do estagiário?).
Diante desses fatos me parece que continuar escrevendo algo é um tanto quanto dispensável. A ANVISA apenas exerceu o seu papel e fez cumprir as regras e normas para a qual foi criada. Ao invés de criticarmos o que aconteceu devemos nos sentir seguros de que, a maioria dos produtos vendidos legalmente no Brasil, são comprovadamente seguros para o uso. Isso não é garantia de eficiência ou de que esses produtos nos trarão os resultados esperados (ou prometidos), mas pelo menos não nos farão mal.
Profissionais da área de saúde são, muitas vezes, formadores de opinião e deveriam saber a responsabilidade que isso traz. A classe médica em especial (sem desmerecer outras classes profissionais), é vista como altamente confiável. Acredita-se que os médicos colocam a integridade de seus pacientes e a saúde da população em geral acima de tudo. Essa imagem realmente gera muita responsabilidade sobre a opinião que emitimos publicamente para que façamos isso de forma leviana.
. por Dr. Ricardo M. Borges